Para ser músico devemos focar a duas coisas fundamentais quando da profissionalização, o caminho mais curto e razoavelmente satisfatório, executando músicas consagradas de outros autores, pois a identificação do público foi devidamente massificada nos meios de comunicação, ou tocar suas próprias canções compostas. Tais caminhos merecem um destaque óbvio, nem todos músicos ou mesmo os que se consideram profissionais da música tem o talento da composição como arte em seu espírito, e o que difere naturalmente dos nobre executantes covers. Não obstante tal critério no Brasil isso é latente e impermeável, pois a escolha de uma das categorias significa tempo, erros e frustrações irremediáveis. Aí eu pergunto: o que é melhor cover ou som autoral no país?
Realmente, fazer os dois juntos seria uma escolha excelente, mas não é bem assim, tocar covers e som autoral juntos consiste na perda da qualidade, pois tudo acaba no nivelamento de interpretação, o músico ornamenta o conteúdo cover de vários autores a uma dinâmica só, prejudicando seu próprio som autoral também. Daí, vem novamente a questão que caminho seria mais apropriado, a resposta é determinada pelos seus valores pessoais para com a música e não você como músico.
O som cover atual é totalmente incoerente com a sua forma no passado, pois para se aprender música necessita tocar obras de outros artistas, certo? Mas isso não significa que se deve ser uma reprodução idêntica da gravação ou transcrição, todavia encontramos a vassalagem tomando conta dos músicos que tendem a copiar o máximo, como se fosse um espelho na reprodução convincente, gerando uma confusão intencional entre o artista original e o artista cover diante do público. O cover não é interpretação de canções alheias, pois os músicos criativos dão a sua cara e espírito àquilo que já foi criado, compondo arranjos e ornamentos dignos de aplausos no talento de ser músico, sem desvalorizar o artista e a própria composição. A mágoa nesta questão reside que no Brasil não se valoriza o interprete, mas sim o cover como cópia fiel da arte. Esta máxima é a expressão do que o saudoso Emerson Nogueira prega na sua vida cover de arte: "Nada se cria, tudo se copia". É certo isso? Temos que refletir nesta expressão desagradável.
Por outro lado o som autoral, como foi dito anteriormente é o próprio espírito do músico, o fluido condutor da arte em se fazer algo realmente honesto (não porcarias para fazer dinheiro e ter o direito de colocar a carinha na TV e revistas), sem apegos a tendências copistas. Certo é que a música em toda sua estrutura teórica e científica não evoluiu nos últimos 170 anos, mas isso não quer dizer que não se pode fazer arte original e reinventar conforme as mudanças humanas, músicas dignas de bom agrado ao público, a tecnologia é uma condicionante disso na atualidade, mesmo que usada sem fundamento artístico por muita gente. Tocar algo próprio necessita de valorização, e realmente a cultura brasileira não valoriza tal questão, o que leva a cada dia profetizar que o futuro será nebuloso, pois estamos mais consumindo coisas criadas no passado, porque o presente sinceramente não tem nada de autoral, salvo raras exceções. Por causa destas e outras diversas que devemos melhorar como sociedade, reconhecer o trabalho autoral dos músicos, valorizando-os e remunerando-os para não acabarmos importando mais ainda o que nós não conseguimos fazer aqui dentro.
Fica aí questão colocada, lembrando que não estamos falando de comércio na música, pois isso levaria mais alguns inúmeros posts.
Zhivago
Guitarrista dos Patriotas do Rock